quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O ESPECTRO DA CRIPTA


O Episódio 23 da SAGA DOS PRODÍGIOS aparece após tanto tempo...




BORRÕES E JOGOS DE LUZES INUNDARAM OS OLHOS de Manyu conforme uma fileira de holofotes era ligada, em sucessão, no fundo da cripta. Lacernos mantinha-se contra a fonte de luz e isto fazia sua figura parecia mais estranha e apavorante ainda.


“Estamos há três dias tentando, barão. Ele não parece reagir muito, está só ficando mais doidão.” A voz de um daqueles que havia resgatado Manyu, um homem magrelo e tatuado chamado Grassi, fez-se ouvir perto do ouvido esquerdo do rapaz. As percepções do jovem estavam em rápida mutação e ele sentia – era bizarro e inacreditável – a textura barba por fazer de Grassi vir junto com seu hálito um tanto desagradável.


Outra voz, feminina, interrompeu Grassi, “Bobagem. Li todos os detalhes do Livro Secreto de Vincent, o Vulto, e estou lendo todos os sinais que ele passa, então na verdade posso dizer que estamos na cúspide da...” A voz se desfazia misturada com sons que vinham com os fachos de luz – os sentidos de Manyu Daury eram um turbilhão, atiçado pelo cheiro dos incensos, pelas beberagens que lhe obrigaram a tomar, pelos três dias em isolamento no escuro, intercalado por clarões como aquele. A voz interrompida não era de alguém do pequeno grupo que trouxera Manyu a Lacernos, e sim de uma mulher que vivia naquela cripta e pouco saía.


“Não precisa explicar tudo ao garoto, dra. Urizen,” disse Lacernos, “quero que tudo seja o mais espontâneo possível; o menino vai ter que nos ajudar a ligar a máquina. Ele tem uma dívida para com nós. Não é mesmo, Manyu-zal?”


Zal. A contraparte do pronome de tratamento zul. Seu feminino é zala. Significado literal: laço, elo. Uso: pessoas da mesma família. As lições de gramática do velho Nehru Daury se repetiam, indeléveis, nos ouvidos de seu neto Manyu, atrapalhando o entendimento das falas dos bandoleiros ao seu redor. A base do Barão Darin Lacernos – assim era como ele pomposamente se apresentara quando conheceu Manyu – não ajudava em nada, com sua acústica ecoante. Pelo contrário, deixava o rapaz a ponto de enlouquecer.


Naquele momento ele desejou ter sua irmã perto de si. Não sabia o que havia acontecido com ela. Um trecho de uma fala de Lacernos conseguiu atingir seus ouvidos, “...cavalgar uma aranha daath seria uma boa...”, e a palavra daath soava pesada como água entrando nos tímpanos e causando dor de cabeça. De repente, tudo mudou.


A visão de Manyu era agora clara e nítida, mas... diferente do que ele jamais sentiu. Era como se ele tivesse múltiplos olhos; podia enxergar de diversos ângulos diferentes; e o que enxergava certamente não era mais a cripta no subterrâneo do Nomo das Torres, onde estava aprisionado.


Enxergava a paisagem deplorável do Ermo da Condenação.


Sentia também seus pés mergulhados em parte numa areia fofa e úmida – com ênfase em pés: muitos pés, muitos pares de pés. Mas todo esse estrondo de novas percepções foi cruelmente interrompido por um pé dourado que vinha na direção de Manyu, batendo com um impacto fortíssimo. Ele havia recebido uma voadora direto na barriga – ou seria nas costas? As impressões sensoriais eram confusas.


Manyu teve pouco tempo para aproveitar seus novos oito pontos de vista; em pouco tempo o agressor dourado esmagava alguns de seus olhos, e Manyu em meio a dor percebia que era um neander vestido com alguma armadura estranha. Tentou revidar de alguma forma, mas outro ponto de seu novo corpo fora atingido – agora uma de suas gigantescas patas fora cortada fora!


Enquanto o assassino vestido de negro recuperava o alfange que o havia mutilado, Manyu pensou em destruir a ambos – sabia que tinha poder para isso, mesmo tendo sido tantas vezes atingido. Era uma sensação muito parecida com um instinto, vinha do fundo de sua mente, ou de algo abaixo de sua mente.


Mas antes que conseguisse fazer algo, ficou paralisado – lá estava ela, do lado de uma moça de azul e outra de vermelho, sua irmã Dova. 


Pensou em pedir ajuda, mas as palavras não saíam da boca. E Dova parecia estar do lado de seus agressores, porque ela e a de vermelho ladeavam e apoiavam aquela... criatura de azul que antes era uma moça, agora coberta de placas quitinosas e olhos brilhantes, tudo em diferentes tons de azul... uma criatura que ergueu suas mãos – nelas haviam duas espadas curtas, de um metal brilhante – e as uniu criando um relâmpago de fogo azul que foi certeiro atingir o corpo aracnídeo que Manyu habitava.

O espectro do rapaz, que habitava a daath por meio de alguma feitiçaria desconhecida, não conseguia fugir, nem revidar. Ainda mais quando Dova executou uma incrível acrobacia e veio graciosa, ombros à mostra, numa postura de indiferença e agressividade jamais vista, com um cajado branco atacar o irmão dentro do corpo da aranha daath.



Um comentário:

  1. IMAGENS E AUTORES

    1
    Autor desconhecido
    http://www.portallos.com.br/wp-content/uploads/2010/11/1680x105015.jpg

    2
    Leng Spider, Adam Schumpert
    http://artorder.ning.com/forum/topics/lovecraft-creature-lab-finals?id=5243350%3ATopic%3A31420&page=18

    3
    Sem autoria indicada
    http://www.polyvore.com/sword_woman_fantasy_wallpaper_50010/thing?id=17613458

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