segunda-feira, 5 de março de 2012

MESTRES OU MONSTROS


Voltamos à SAGA DOS PRODÍGIOS em seu Episódio 25:





EURO ERA MOVIDO POR UM ÍMPETO jamais sentido antes. Havia uma vontade incansável que o levava a esmurrar aquela abominação daath. A gigantesca aranha parecia bastante ferida, mas Euro não conseguia sentir piedade do monstro. Mais um estrondoso murro nos palpos daquele demônio, e ela deveria cair.


E sem dúvida ela caiu. Euro praticamente dilacera a face da aranha com um soco, e sua aliada de vermelho, Charya, agora vestindo uma armadura crustácea e empunhando uma katana de duas mãos, a crava logo em seguida no cefalotórax do inimigo. Agressões suficientes para derrubar o demônio do Ermo de uma vez por todas.


E sobre o cadáver do monstro que estrebucha, uma forma espectral se ergue, flutuando como se debaixo d'água, um rapaz de olhar ensandecido, envolto numa aura de um verde doentio. NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO, é o brado que invade a mente dos cinco Prodígios, e a aparição some como se nunca tivesse estado ali.


Reação automática, um calafrio e uma fraqueza súbita abate o grupo, e seus uniformes-paradoxo retornam – dolorosamente – às suas formas anteriores. Embora à primeira vista a quem menos sofreu com as mutações repentinas, Dova ajoelha-se no chão, quase sucumbindo à posição fetal. Euro consegue abrir os olhos com mais nitidez e segura a Prodígio Branca pelo ombro, “Calma, você vai ficar melhor.” Desde que haviam saído do coma, Euro começara a sentir-se protetor com relação a Dova.


A mocinha levanta o rosto molhado de lágrimas e sangue de aranha, e tenta gritar mas a voz sai débil, “Não o reconheceu, Euro? Era meu irmão... Manyu! Mas ele está morto, morto, era um fantasma, um narakami.” O pouco que Azif conhecia da religião dalai tsu incluía os mitos dos narakami, espécie de demônios do Ermo que seriam na verdade almas em tormento, presas ao Ermo como aparições incorpóreas ou possuindo o corpo das feras que vagavam por ali. O Prodígio Negro recuperou suas forças, levantou-se a ajudou Euro a levantar Dova, murmurando suave, “Ele já se foi, deve ter se unido aos seus ancestrais.”


Berya havia permanecido em pé o tempo todo, estupefata, paralisada; e Charya tocou a fronte, tentando expulsar a dor de cabeça, notando que o elo mental havia desaparecido; os Prodígios não estavam mais mentaligados. Não fui forte o suficiente, pensou a moça, tanta dor, mas eu deveria ter segurado as pontas. Agora, só depois de meditar e dormir para recuperar a ligação. A voz de Berya, mais alta que os sussurros dos outros, interrompeu seus pensamentos, “Modo Brutal.”


“Sim,” continuou a Prodígio Azul, recitando cada palavra com firmeza, como se fosse um discurso decorado, “derrotamos uma aranha gigante com poucos golpes, seria praticamente impossível fazer algo assim antes. Este é o Modo Brutal dos uniformes-paradoxo, era como meu pai chamava um segundo estágio dos paradoxos. Uma teoria apenas, mas que está se provando verdadeira... e consigo me lembrar melhor de como meu pai falava da tearcubadeira, dos vislumbres vindos dos novos deuses, de suas hipóteses xenogoéticas... era um de seus objetivos, além de espalhar a devoção aos Alienígenas, criar uma elite que vestisse paradoxos brutais, a partir das sátrapas que o deviam lealdade. E eu seria a Soberana das Sátrapas... com toda certeza manipulada por ele... mas agora ele está morto...”


Charya pensou em uma série de perguntas aflitas quanto a alguns termos da fala de Berya, mas em vez disso retomou a compostura e perguntou, “E quanto à tearcuba? Você a destruiu na noite em que se uniu ao paradoxo?”


“Tenho certeza de que não,” respondeu Berya. “Mas há ainda algumas coisas que não lembrava, essa tearcubadeira foi em parte formada pelo kobold da Torre Azul.”


“Kobold?” fez Azif, enquanto segurava um braço de Dova, “não são ídolos de cristal anão que enfeitam as casas da aristocracia da Terra Castanha?” Berya assentiu com a cabeça, “Nem todos os cristais são kobold, esses são usados pelas servocratas que cuidam de propriedades importantes, para administrar e proteger a residência. Como lidar com eles é coisa que poucos sabem, e na verdade imagino que podem ser perigosos... o que cuidava de nossa casa às vezes repreendia a própria servocrata, causando tonturas quando ela agia de forma incompetente. E ouvi criados sussurrarem que o nosso kobold às vezes era malicioso.”


“Os nômades contam que as casas dos sacerdotes da Terra Castanha são assombrados por espíritos malignos,” raciocinou Charya, “talvez se refiram a esses kobold. De qualquer forma, há outra coisa também... Dova.”


A menina de branco soltou-se dos braços que a seguravam e enxugou os olhos, fitando Charya. “Dova, você presenciou a morte do seu irmão?”


“Não... mas os zelotes gabaram-se de ter matado a todos.” Charya respondeu com firmeza tranquilizadora, “Pare de chorar, e lembre-se do momento em que ele surgiu diante de nós: você é uma catalisadora. ELE ESTAVA VIVO?”


Dova respirou fundo e tentou deixar de lado os restos do desespero que a havia tomado quando viu o fantasma de Manyu. Como uma catalisadora psíquica, Dova podia intuir e curar; podia sentir energia vital. E ela havia se deixado enganar pelo pânico e pelas crenças de sua família: definitivamente aquela aparição tinha uma centelha de vida. Não era um narakami. “Sim...” um sorriso lhe dominou o rosto, e a aurora boreal do Ermo começou a raiar no horizonte. “Ele está vivo!”


Agora é só manter em segredo, por enquanto, de como eu sabia que ele está vivo, pensou Charya. Se eles souberem que eu estive do mesmo modo, flutuando naquele estado espectral, enquanto durou o coma, podem acabar descobrindo o que o Grão-Mestre fez enquanto estávamos desacordados. Eles vão ter que saber, mas não agora. Não no meio do Ermo, e a missão é mais importante que o próprio Grão-Mestre que a ordenou.


Fídias Bendante é que terá uma surpresa, quando retornarmos...

Um comentário:

  1. AUTORES E FONTES DAS IMAGENS

    1
    Michael Birnstingl
    http://zupi.com.br/site_zupi/view/no_na_mente

    2
    Sergey Tyukanov
    http://zupi.com.br/site_zupi/view/contos_de_fadas_da_russia

    3
    Chiara Biancheri
    http://zupi.com.br/site_zupi/view/misterios_matematicos

    ResponderExcluir